teatro combina com política?

Quem sou eu

Somos um grupo humano, de pessoas, que querem fazer do teatro uma maneira de expressão, de conquista da liberdade, de inserção e intervenção na sociedade. Somos contra qualquer intolerancia e autoritarismo. Somos a favor do amor e da mudança do mundo.

domingo, 30 de maio de 2010

alguns de nos foram assistir Filhas da Mata


FILHAS DA MATA (gRUPO Imaginário)

SINOPSE:
Mulheres esquecidas e abandonadas pelo tempo e pela memória vivem mergulhadas num mundo fronteiriço entre sonho e realidade, lutando pela redescoberta do sentido de suas existências e suas histórias de vida. Sem rumo e presas às amarras do passado, lembranças e ilusões se confundem, levando as personagens a um estado de aparente alienação. Mulheres que compartilham suas memórias com o público e representam o universo metafórico da purificação pelo fluxo das águas.


FICHA TÉCNICA

Elenco: Zaine Diniz, Jória Lima e Gilca Lobo
Participação especial: Maria Luiza
Dramaturgia: Jória Lima
Concepção Sonora: Bira Lourenço
Concepção cenografica: Chicão Santos
Figurino: Zaine Diniz e Jória Lima
Operador de Luz e Assistente de Produção: André Luiz
Poesias: Nilza Menezes
Direção e Produção Executiva: Chicão Santos

quarta-feira, 26 de maio de 2010

alguns de nós foram assistir Raptada pelo raio



Inspirada na lenda Kaná Kawã, do povo indígena marubo, a peça Raptada Pelo Raio - Poema Cênico De Amor E Morte conta a história de um homem que cruza regiões do mundo na tentativa de recuperar sua mulher, raptada por um raio. Essa é a segunda vez que a relação de índios com a morte se torna pano de fundo para um espetáculo da Cia. Livre.

A montagem, com direção de Cibele Forjaz, se assemelha ao mito grego de Orfeu, que atravessa os limites do amor, da impossibilidade e do mundo existente entre vivos e mortos para resgatar um ente querido. O público é convidado a experimentar sensações e mergulhar na história, ora deitando em redes e fechando os olhos, ora estimulado pela luz, olfato e vozes dos atores.

Ficha Técnica
Dramaturgia: Pedro Cesarino em processo colaborativo com a Cia. Livre
Direção: Cibele Forjaz
Elenco: Lúcia Romano, Edgar Castro, Christian Amêndola Moleiro e Paulo Azevedo
Preparação corporal: Juliana Monteiro e Tica Lemos
Iluminação: Alessandra Domingues
Direção de arte (cenário e figurinos): Simone Mina
Direção musical e composição original: Lincoln Antônio
Direção vocal e pesquisa de sonoridades: Lucia Gayotto
Produção e Administração: Eneida de Souza

Foto: Divulgação / Cacá Bernardes

texto extraido de: http://guiadasemana.uol.com.br/Sao_Paulo/Artes_e_Teatro/Evento/Raptada_Pelo_Raio_Poema_Cenico_De_Amor_E_Morte.aspx?id=50555

domingo, 23 de maio de 2010

FOMOS ASSISTIR À PEÇA DO GRUPO GALPÃO (TILL, A SAGA DE UM HEROI TORTO)


O palco na praça
Pode-se dizer que o Grupo Galpão, sediado em Belo Horizonte, é um dos mais importantes do Brasil. Formado há quase 30 anos por um coletivo de atores, o grupo normalmente convida diretores para seus espetáculos. Foi assim com o memorável Romeu e Julieta, dirigido por Gabriel Villela, que estreou em 1992 e rodou o mundo. Apenas uma ou outra vez, algum ator do próprio grupo decide dirigir um espetáculo. E foi este o caso de Till, a saga de um herói torto, conduzido por Julio Maciel.
Após algum tempo assistindo aos trabalhos do Galpão em teatros fechados, é recompensador ver o grupo retornar com tanta propriedade às suas origens no teatro de rua. A rua traz desafios à criação que, se usados a favor, resultam em espetáculos com grande poder de comunicação. E esse é justamente o caso: o texto de Luís Alberto de Abreu, ainda que narrativo demais, oferece uma ótima plataforma para os atores brincarem com personagens grotescos e situações cômicas bem ao estilo da comédia popular.
A peça conta a história de Till, um anti-herói que vem ao mundo por causa de uma aposta entre Deus e o Demônio, numa Alemanha medieval repleta de velhacos e aproveitadores. Para dar conta desses personagens, o elenco fez inclusive um trabalho de preparação baseado no arquétipo do bufão.
Fim de semana passado eles se apresentaram no Parque dos Patins, à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas. Numa noite de céu claro, com a imagem do Redentor por cima do palco e plateia lotada, quem esteve lá presenciou um momento especial. Mas as apresentações que eles realizam ainda essa semana nos Arcos da Lapa e na Quinta da Boa Vista não ficam nada a dever em termos do entorno. E, em breve, mas ainda sem datas e locais confirmados, devem se apresentar em São Paulo. Fique de olho!

ELENCO PERSONAGENS

Antonio Edson (Borromeu / Povo / Anão)
Arido de Barros (Parteira / Juiz / Camponês / Carrasco / Padre / Miserável)
Beto Franco (Parteira / Português / Padre / Camponês / Miserável)
Chico Pelúcio (Demônio / Camponês / Voz do Soldado)
Eduardo Moreira (Doroteu / Povo)
Inês Peixoto (Till)
Lydia Del Picchia (Parteira / Consciência / Cozinheira / Menino)
Simone Ordones (Alceu / Povo)
Teuda Bara (Mãe / Miserável)

EQUIPE TÉCNICA
Direção: Júlio Maciel
Texto: Luís Alberto de Abreu
Cenografia e Figurino: Márcio Medina
Direção musical – arranjos, adaptações e composições: Ernani Maletta
Preparação corporal para cena: Joaquim Elias
Iluminação: Alexandre Galvão, Wladimir Medeiros
Caracterização: Mona Magalhães
Adereços: Luiza Horta, Marney Heitmann, Raimundo Bento
Sonorização: Alexandre Galvão
Cenotécnica e contra-regragem: Helvécio Izabel
Assistente de figurino: Paulo André
Assistentes de cenografia: Poliana Espírito Santo, Amanda Gomes
Preparação vocal: Babaya
Técnica de Pilates: Waneska Carvalho
Construção do palco: Tecnometal
Ajudante de cenotécnica: Nilson Santos
Costureiras: Taires Scatolin, Idaléia Dias
Fotos: Guto Muniz / Casa da Foto
Projeto gráfico: Lápis Raro
Consultoria de planejamento: Romulo Avelar
Assessoria de planejamento: Ana Amélia Arantes
Assessoria de comunicação: Paula Senna
Estagiários de comunicação: Ana Alyce Ly e João Luis Santos
Consultoria de patrocínio: Mauro Maya
Assistente de produção: Anna Paula Paiva
Produção executiva: Beatriz Radicchi
Direção de produção: Gilma Oliveira
Produção: Grupo Galpão
Patrocínio: Petrobras
TEXTO EXTRAÍDO DE: http://sobreteatro.wordpress.com/2009/09/22/till-a-saga-de-um-heroi-torto/

quinta-feira, 20 de maio de 2010

à Zé da Terreira que sempre atua na luta por um mundo melhor



Hoje na festa da Biodiversidade aconteceu uma intervenção de teatro de rua, em que Zé da Terreira estava leiloando os espaços públicos de Porto Alegre. Miltancia e reflexão é o que ele faz sobre este assunto perverso. Os espaços públicos estão a perigo e Zé da Terreira através do teatro, quer discutir com todos esta problemática. É isso aí Zézão, vamos a luta sempre.



ELE ME CONTA QUE É ATOR E TRABALHOU NO HAIR (exraido de: http://www.samba-choro.com.br/artistas/zedaterreira)

Zé da Terreira tem realizado um trabalho inigualável como ator e cantor, principalmente na modalidade do teatro de rua. Neste campo de ação, trabalhou com os grupos Tá na Rua, do Rio de Janeiro, e com os porto-alegrenses Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz e Grupo de Teatro Oficina Perna de Pau. Sempre acompanhado do maracanã, seu instrumento de percussão mais freqüente, possui, ainda, uma experiência como oficineiro, mostrando sua arte em centros comunitários e, na Escola Porto Alegre, para meninos de rua.
A música sempre foi determinante na carreira de José Carlos Peixoto. Nos anos em que viveu no Rio de Janeiro, por exemplo, participou como cantor no Festival Universitário de Música Brasileira e no antológico programa de calouros do Chacrinha. Lá recebeu prêmios e um convite para integrar o elenco da primeira montagem brasileira da ópera-rock (e hippie) Hair.
Já em Porto Alegre, montou os shows Césio 137, que fez temporada no espaço Terreira da Tribo; Tiro ao Álvaro, com músicas de Adoniran Barbosa; e África-Brasil, este com apresentações ao ar livre, em espaços como o Largo Glênio Perez, a Usina do Gasômetro, a quadra da Escola de Samba Imperatriz Dona Leopoldina e a Esplanada da Restinga. Com Caio Gomes mostrou músicas de Noel Rosa, no show Conversa de Botequim.
Ainda em seu currículo, constam as participações, como cantor/ator nas peças “Jacobina, Balada para um Cristo Mulher” e “A Exceção e a Regra”, de Bertold Brecht – nesta, encenada pelo Ói Nóis Aqui Traveiz, participou também como compositor, ao lado de Johann Alex de Souza e Mário Falcão, musicando as letras do dramaturgo alemão. Mais tarde, este repertório seria mostrado por ele em show no Instituto Göethe. Em 2000, recebeu da Câmara Municipal de Porto Alegre o Prêmio Qorpo Santo, por inúmeros e relevantes serviços prestados à cultura local. Em 2002, lança o CD "Quem Tem Boca é Pra Cantar". Realmente o CD está excelente. Havia uma certa apreensão quanto à performance do Zé em estúdio – um cara afeito ao improviso vivo das ruas, tendo que vencer a clausura inóspita e a asséptica vedação acústica das salas de captação de áudio. Mas o talento e a espontaneidade do artista se sobrepuseram aos percalços de eventuais dramas de adaptação.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A fina flor (mostra de teatro do DAD)


Alguns de nós foram assistir ao espetaculo A fina flor, que esta sendo apresentado todas as quartas feiras do mes de maio na sala Alziro Azevedo, as 12h30min e 19h30min, com entrada franca. Peça interessante de se ver.

A fina flor propõe ao espectador um lúdico encontro com duas anfitriãs, Claudete e Maria Helena, que com muita alegria recebem o público com uma já esperada alegria, na qual revivem as glórias de um passado remoto. Ao longo dessas lembranças são reveladas situações intimas de suas vidas onde realidade e fantasia, passado e presente se confundem. Duas vidas que percorrem esses tempos tendo uma a outra como cumplice, um lugar onde dividir a dor e somar a ilusão. Buscam encontrar ou até mesmo perder suas referencias dentro de uma questão que permeia todo o espetaculo: a existencia: A mais fina flor.

extraído de material do evento.

FESTA DA BIODIVERSIDADE NO CENTRO DE PORTO ALEGRE

Esta semana acontecerá a festa da biodiversidade nos dias 19 a 22 em alguns lugares de Porto Alegre. O povo da rua, grupo de teatro de Porto Alegre, vai estar dia 20 apresenta a peça caravana da ilusão. Vale a pena dar uma chegada e conferir a festa toda.

CoMeÇA a SeMAnA da BioDiVERSidade 2010…
15 15UTC maio 15UTC 2010 por blogfestadabiodiversidade




Este ano tem mais uma edição da Festa da Biodiversidade. Será uma semana de atividades enaltecendo o que temos de positivo no país mais megadiverso do Planeta e denunciando as ameaças a biodiversidade. Agende a sua presença!

IV Festa da Biodiversidade
uma semana para festejar a luta pela biodiversidade

Porto Alegre – RS

Dia/Feira da Biodiversidade

Quinta-feira 20 de maio de 2010

Largo Glênio Peres


Durante todo o dia: bancas com exposição de trabalhos de grupos do movimento social e ambiental


06:00 – Café da manhã coletivo e moNTagem da geOdéSica

10:00 – Gurias da Percussão com a poetisa Telma Scherer (poema “Não Me Safo)

10:30 -TaMboReada com Mestres Griôs

12:00 – eSpeTácUlo teatral Caravana da Ilusão, com o grupo Povo da Rua

15:00 – Tertulia em Movimentos

16:00 – Oficina de saMBa de rOda com o Mestre Renato

19:00 – Roda de capOeiRa Angola com o Grupo de Capoeira Angola Zimba

20:30 – Maracatu Truvão e após BatUcadÃo Coletivo

Circuito de Vídeos/Debates
Sala Redençãocampus central da UFRGSSegunda-feira 17.05 – 14h“O céu de Suely” (2006), Direção deKarim Aïnouz (mesmo diretor de Madame Satã). Duração: 88 minutos. Debatedora: Patrícia Abel Balestrin;Terça-feira 18.05 – 14h

“Mokoi Tekoa Petei Jeguatá – Duas aldeias, uma caminhada” (2008), Direção Ariel Duarte Ortegas, 63 minutos. Debatedor: Ariel Duarte Ortega

Quarta- feira 19.05 – 14h

“O Homem Duplo” (A Scanner Darkly) 2006. Direção Richard Linklater (Mesmo diretor de Waking Life). Duração: 100 minutos. Debatedora: Cláudia Tomaschewski
Comunidade Utopia e LutaEscadaria da Borges – CentroSegunda-feira 17.05 – 19h13 Pueblos (2009). México; Direção: Francesco Taboada Tabone. Documentário sobre os 13 Pueblos – movimiento del Consejo de Pueblos no México.Terça-feira 18.05 – 19h

É possível (2010). Brasil; Coletivo Catarse. Reportagem cinematográfica sobre os 25 anos do MST.
Quarta- feira 19.05 – 19h

A Revolução dos Cocos (2001). Bougainville. National Geographic.

Feira de Trocas
Sábado, 22 de maio de 2010

14h

Local: Comunidade Utopia e Luta – Quilombo das Artes

Escadaria da Borges – Centro

Traga aquilo que não está mais em uso (a solidariedade) e boas trocas!

Sarau da Biodiversidade
Sábado, 22 de mao de 2010

18h

Local: Comunidade Utopia e Luta – Quilombo das Artes

Escadaria da Borges – Centro

Festerê
Sábado, 22.mai.2010

a partir das 22h

Shows: Rasta blues e Gurias da Percussão com a poetisa Telma Scherer (poema “Não Me Safo)

LOCAL: Galpão do Parque Harmonia

Mais informações: https://blogfestadabiodiversidade.wordpress.com/

segunda-feira, 17 de maio de 2010

13 maio e a abolição da escravatura no Brasil


Aabolição pode ter acontecido,mas a situação mudou? Mario Maestri, tem uma opinião sobre o assunto...


13 de Maio

A Única Revolução Social Vitoriosa no Brasil



Nesse 13 de maio, cumpre-se sem glória mais um natalício do fim da escravatura no Brasil, uma das primeiras nações americanas a instituir e a última a abolir a escravidão. Dos 505 anos de história brasileira, mais de 350 passaram-se sob o látego negreiro. Apesar da superação do escravismo constituir o mais significativo acontecimento de passado nacional, o aniversário da Abolição transcorrerá, outra vez, semi-esquecido.

A Abolição já foi data nacional magna, festivamente relembrada e rememorada. Nos últimos anos, profundamente questionada, organizou-se verdadeira conspiração de silêncio em torno dela. Paradoxalmente, a operação recebe o apoio do movimento negro brasileiro que, ao contrário, deveria desdobrar-se na celebração do 13 de Maio e na discussão de seu significado histórico, destruindo as interpretações apologéticas sobre ele.

O caráter cordial, transigente e pacífico do brasileiro já foi um dos grandes mitos nacionais. A abolição da escravatura foi apresentada como prova dessa pretensa realidade. No exterior, o fim da instituição motivara lutas fratricidas. A guerra de Secessão causou quinhentas mil vítimas nos USA. No Haiti, em 1804, a destruição da ordem negreira exigiu a mais violentas guerra social do continente.

No Brasil, a transição teria se efetuado sem violências devido a instituições sensíveis ao progresso dos tempos, a líderes esclarecidos e à humanitária alma popular. Neste cenário de paz e concórdia, brilharia a figura humana de Isabel – a Redentora. Apiedada com o sofrimento dos negros e despreocupada com a sorte do seu trono, ela assinou com caneta de ouro o diploma que pôs fim ao cativeiro.

Em 13 de maio de 1888, começaria a construção de sociedade fraterna e desprovida de barreiras sociais ou raciais intransponíveis. As desigualdades existentes dever-se-iam a deficiências não essenciais da civilização brasileira, enraizada em uma concórdia estrutural entre ricos e pobres, brancos e negros. Ao menos, era o que se dizia.

Pátria incruenta

Acontecimentos pátrios de impar importância, a Independência, a República e a Abolição teriam como denominador comum o caráter essencialmente pacífico da civilização brasileira. Apresentava-se igualmente a essência patriarcal da ordem escravista como corolário da natureza magnânima do homem brasileiro, que quebrantava qualquer confronto de raça, credo e classe.

Com a queda da ditadura militar e a redemocratização, em 1985, a crescente organização popular e o surgimento de entidades negras combativas criaram as condições para desnudar a triste realidade subjacente ao discurso da democracia racial e da fraternidade brasileira. As narrativas laudatórias sobre a Abolição, sobre a escravidão e sobre o caráter democrático de sociedade nacional trincavam-se contra a triste realidade contemporânea.

Em fins dos anos setenta, diante dos olhos mais míopes, desnudava-se situação onde o povo negro constituía a parcela mais sofrida de uma população crescentemente explorada. Revelava-se para os que não se negavam a ver sociedade singularmente violenta onde a pele escura dificultava a conquista do trabalho e facilitava o acesso à prisão, se não ao necrotério.

Desde os anos sessenta, as descrições fantasiosas sobre o passado do Brasil eram refutadas por cientistas sociais como Florestan Fernandes, Octávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, etc. que empreenderam análises mais objetivas, sobretudo da segunda metade do século 19. Porém, em geral, esses autores refutavam o significado histórico do 13 de Maio ao referirem-se à escravidão. Apontavam a inusitada violência do escravismo brasileiro mas definiram a sua superação como um “negócio de brancos”, onde os cativos, principais interessados, não teriam tido papel significativo ou ganhos substanciais naquela superação.

Em fins dos anos setenta, o movimento negro retomou acriticamente essa tese, com o objetivo de melhor denunciar a situação econômica e social da população afro-descendente. Para desqualificar a Abolição, ressaltou-se que se efetuara sem a indenização pecuniária ou fundiária. Que o movimento abolicionista buscava, libertando os cativos, prover-se de mão-de-obra barata. Que após a Abolição, as condições de existência das massas negras teriam talvez piorado, tese defendida, por Gilberto Freyre, sobretudo em Sobrados e mucambos, de 1936.

Para melhor criticar os mitos da emancipação do povo negro em 1888 e da ação magnânima da Regente Imperial, o movimento negro propôs a abominação do 13 de Maio e a celebração do 20 de Novembro como dia nacional da consciência negra no Brasil. Naquela data, em 1695, morria Zumbi, o último chefe da confederação dos quilombos de Palmares.

Encobrindo o passado
Apesar de bem-intencionadas, essas leituras consolidaram as interpretações caricaturais e paternalistas do 13 de Maio, dos ideólogos das classes proprietárias, que procuravam escamotear o sentido e a essência de sucessos nascidos do esforço das massas escravizadas aliadas aos setores abolicionistas radicalizados. Assentou-se assim a última pedra na construção do esquecimento do mais importante acontecimento histórico brasileiro – a revolução abolicionista de 1887-8.

O movimento negro organizado esquecia que celebrar a Abolição não significa reafirmar os mitos da emancipação social do povo negro em 1888 ou de Isabel como promotora da emancipação. Ignorava que comemorar o fim da escravidão significa recuperar a importância da superação do escravismo, através de frente política pluriclassitas, e do protagonismo dos cativos nesses fatos e no passado do Brasil.

Em forma alienada e imperfeita, as comunidades negras sempre intuíram a importância histórica da libertação, em 1888. Apenas nos últimos anos essa consciência diluiu-se devido ao proselitismo anti-Abolição, verdadeira invenção da tradição que resulta em grave perda da memória histórica das classes trabalhadoras e oprimidas, em geral, e afro-descendentes, em particular.

Foi o profundo impacto da Libertação, em 1888, na consciência e na vida dos cativos e libertos que levou o povo negro a rememorar, com tanto carinho, por um século, o 13 de Maio, e festejou, imerecidamente, com devoção, a escravista Isabel de Bragança, herdeira da casa de Bragança, um dos grandes responsáveis pela manutenção do cativeiro no Brasil quase até o século 20.

Em inícios de 1980, Mariano Pereira dos Santos, centenário ex-cativo, apesar de ter vivido como homem livre na profunda miséria, afirmava comovido, semanas antes de morrer, que após a “Libertação”, o povo negro vivera “na glória”. Maria Benedita da Rocha, uma outra ex-cativa, também centenária, referiu-se, arrebatada ao anúncio do fim do cativeiro na sua fazenda. Através do Brasil, nas cidades e campos, em 13 de maio de 1888, os tambores e atabaques ressoaram poderosos ferindo em derradeira vendeta os tímpanos dos negreiros derrotados.

O dia da libertação

A visão do 13 de Maio, pelo povo negro, como concessão da Redentora, não pode ser explicada apenas como resultado da propaganda das classes proprietárias. Constitui a cristalização, alienada e determinada pela ideologia dominante, na consciência popular, de acontecimento de profundo sentido histórico para as classes trabalhadoras escravizadas e toda a nacionalidade brasileira. Ou seja, operação para diluir a memória do protagonismo dos trabalhadores escravizados em acontecimento único no nosso passado.

Não há sentido em antepor Palmares ao 13 de Maio. Apesar de saga luminar, Palmares teve menor significado histórico que a Abolição. Por mais heróica que tenha sido, a epopéia palmarina jamais propôs, e historicamente não poderia ter proposto, a destruição da instituição servil como um todo. Palmares resistiu por quase um século, determinou a história do Brasil, mas foi derrotado. A revolução abolicionista foi vitoriosa e pôs fim ao escravismo, ainda que tardiamente.

Desconhecer o sentido revolucionário da Abolição é olvidar a essência escravista de dois terços de passado brasileiro e o caráter singular da gênese do Brasil contemporâneo, através da destruição do modo de produção escravista colonial. Tal desconhecimento ignora a contradição essencial que regeu por mais de trezentos anos o passado brasileiro – escravizadores contra trabalhadores escravizados – e consolida a falsa visão do cativo como categoria social que jamais alcançou a ser protagonista da história.

Nos anos 1950, autores como Clóvis Moura e Benjamin Péret produziram importantes leituras sobre o agir dos trabalhadores escravizados no Brasil. Nos anos sessenta, Emília Viotti da Costa, Stanley Stein, etc. avançaram significativamente o conhecimento essencial da escravidão. Nas duas décadas seguintes, foram produzidos numerosos trabalhos sobre a sociedade, economia e as formas sui-generis de resistência do cativo, destacando-se entre eles a apresentação em O escravismo colonial por Jacob Gorender do escravismo colonial como modo-de-produção historicamente novo.

Nesses anos, estudos como o hoje já clássico Os últimos anos da escravidão no Brasil, de Robert Conrad, apresentaram a Abolição, em seu tempo conjuntural, como o resultado da insurreição incruenta dos escravos cafeicultores que, nos últimos meses do cativeiro, abandonaram maciçamente as fazendas, reivindicando relações contratuais de trabalho. Tais estudos desvelaram parcialmente a extrema tensão política e social sob a qual o movimento abolicionista radicalizado alcançou a vitória, em 1888, em estreita ligação com a massa escravizada, principal protagonista dessas jornadas.

Instituição terminal

Em 13 de maio de 1888, a herdeira imperial nada mais fez do que, após o projeto abolicionista ter sido aprovado no parlamento pelos representantes dos grandes proprietários, sancionar a Lei Áurea, assinando o atestado de óbito de instituição nos estertores finais devido a sua desorganização pela fuga dos cativos. Durante todo o Primeiro e o Segundo Reinados, os Braganças haviam defendido com unhas e dentes a escravidão, conscientes da aliança que os unia umbilicalmente à classe dos escravistas.

Nos últimos meses da escravidão, os mais renitentes negreiros reconheciam já inevitabilidade do fim da instituição. Defendendo até o último momento o cativeiro, pretendiam apenas criar as melhores condições para reivindicar indenização pela propriedade libertada. Foi devido a essa reivindicação que o ministro republicano Rui Barbosa ordenou a queima dos registros de posse de cativos, pois, sem prova legal, não havia possibilidade de indenização.

Foi igualmente a ação estrutural das massas escravizadas, durante os três séculos de cativeiro, que construiu as condições que ensejaram, mais tarde, a destruição da servidão. Sobretudo a rejeição permanente do cativo ao trabalho feitorizado impôs limites insuperáveis ao desenvolvimento tecnológico da produção escravista, determinando altos gastos de vigilância e de coerção ao regime negreiro que abriram espaços para formas e modos de produção historicamente superiores.

Em 1888, a revolução abolicionista destruiu o modo de produção escravista colonial que, por mais de trezentos anos, ordenara a sociedade no Brasil. Negar estas realidades devido às condições econômicas, passadas ou atuais, da população negra, é compreender a história com preconceitos simplistas, moralizadores e, sobretudo, não históricos. Os limites da Abolição eram objetivos. Nos últimos anos da escravidão, a classe escrava era categoria social em declínio que lutava sobretudo pela conquista dos direitos cidadãos mínimos. Foi a reivindicação da liberdade civil que uniu a luta dos cativos rurais à dos cativos urbanos, então pouco representativos.

Apenas a liberdade

Não procede a proposta que a Abolição não teve conteúdo porque os escravistas não indenizaram os cativos. A estrutura latifundiária das plantações escravistas, a pouca difusão de hortas servis e a liberdade civil como reivindicação central já dificultavam movimento pela distribuição de terras, que exigiria união de cativos, caboclos, posseiros, colonos sem terra, etc., praticamente impossível de ser então concretizado, devido sobretudo ao baixo nível de consciência e organização e à elevada heterogeneidade e dispersão geográfica das classes trabalhadoras rurais. Porém, tal medida foi defendida por setores do movimento abolicionista.

Na limitação das conquistas obtidas quando da Abolição pesou também a verdadeira contra-revolução empreendida pelos grandes proprietários, através do golpe republicano, oligárquico e federalista, imposta em 15 de novembro de 1889, que pôs fim ao movimento abolicionista como projeto reformista nacional. Os limites históricos da Abolição não devem minimizar a importância da conquista dos direitos políticos e civis mínimos para aproximadamente setecentos mil homens, mulheres, jovens e crianças ainda registrados como escravos ou ventre-livres. Com o 13 de Maio, superava-se a distinção entre trabalhadores livres e escravizados, iniciando-se a história da classe operária brasileira como a compreendemos hoje.

Nos anos 90, a derrota histórica do mundo trabalho diante do capital e a euforia neoliberal que apenas hoje perde ímpeto determinaram os destinos gerais da historiografia. No Brasil como alhures, em tempos de Nova História, os holofotes da mídia, o interesse das editoras, o bon ton historiográfico passaram a recomendar temas e estudos monográficos, intimistas, biográficos ou exóticos, tranqüilizadores das consciências e pacificadores dos espíritos. Da ciência que procurava libertar, a história evoluiu à arte de entreter.

Nesse contexto, decaiu o interesse e os incentivos, diretos ou indiretos, para a pesquisa sobre a história das classes subalternizadas e para os estudos analíticos sobre o passado brasileiro. Apequenaram-se os estudos sobre as classes trabalhadoras urbanas, o movimento camponês, os fenômenos essenciais da sociedade humana. Diminuíram sensivelmente as pesquisas sobre a escravidão colonial brasileira que retomaram e refinaram as teses da escravidão benigna e consensual defendidas com singular inteligência e cabotinismo e por Gilberto Freyre.

A história é processo objetivo e complexo, apenas em geral ascendente, onde as conquistas sociais de ontem, parciais e contraditórias, possibilitam conquistas mais substanciais no presente, como podem, igualmente, dar lugar a recuos históricos da marcha civilizacional, que ensejam, necessariamente, o obscurecimento da compreensão do presente e do passado.

A revolução abolicionista foi o primeiro grande movimento de massas moderno, promovido sobretudo pelos trabalhadores escravizados, em aliança com libertos, trabalhadores livres, segmentos médios e alguns poucos proprietários. Até agora, constituiu a única revolução social vitoriosa do Brasil. Resgatando seu sentido e desvelando sua história, prosseguiremos mais facilmente no sentido apontado pelos trabalhadores escravizados que ousaram abandonar as senzalas para pôr fim à ordem negreira, no não tão longínquo ano de 1888.

sábado, 15 de maio de 2010

Fomos assistir Mascaras de penas penadas


"Máscaras de penas penadas"

...................................................
Difícil relação entre palco e platéia


Lionel Fischer


"O monólogo fala do caminho interno percorrido pelo ator ao intepretar uma personagem, a solidão, a busca da inspiração, a evocação das Musas, o renascimento, a timidez, a relação do consciente com o inconsciente, o contato com as Musas, com Mercúrio, com os deuses do teatro Diana, Apolo e Dionísio, e a integração desses mitos com sua psique. Em cena, Leona Cavalli, acompanhada de percussão. A ação começa com a atriz se preparando para entrar em cena, quando percebe que ainda não está pronta para começar. Presenciamos então sua busca e iniciação no caminho percorrido para interpretar sua personagem e se comunicar com a platéia.O texto faz parte do livro Caminho das pedras, reflexões de uma atriz", de Leona Cavalli, que vem com o monólogo de Ana Vitória Vieira Monteiro e Áudio-Livro com trilha sonora de Chico César".

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Mostra anual unversitaria de teatro 2010


Todas as quartas feiras desde o mês de abril de 2010 estão acontecendo as peças teatrais do Departamento de Arte Dramática na UFRGS. Para mais informações acesso http://teatropesquisaextensao.blogspot.com/

quarta-feira, 12 de maio de 2010

ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ EM TURNÊ PELO PAÍS.




Pela primeira vez o Teatro de Rua recebeu o grande prêmio do teatro gaúcho: o Açorianos de Melhor Espetáculo foi para O Amargo Santo da Purificação, criação coletiva da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. O espetáculo ainda recebeu os prêmios de melhor produção,melhor figurino, melhor atriz para Tânia Farias e melhor trilha musical para Johann Alex de Souza. A trajetória de trinta e dois anos do Ói Nóis Aqui Traveiz está sendo comemorada com apresentações do espetáculo por todo país. Nos meses de março e abril a encenação que conta a história do revolucionário Carlos Marighella percorreu treze cidades dos estados do sul e do sudeste (Santa Catarina,Paraná, São Paulo e Minas Gerais) dentro do Programa BR de Cultura.

Agora a Tribo começou a sua participação no Palco Giratório do SESC apresentando o espetáculo com grande sucesso em Fortaleza, Quixeramobim e Iguatu. As próximas apresentações serão em Juazeiro do Norte, dia 7 de maio, em Nova Olinda, dia 8 de maio, em São Lourenço da Mata, dia 10 de maio, no Recife, dia 11 de maio, e em Cuiabá no dia 18 de maio. Em junho o espetáculo percorrerá assentamentos rurais no interior do Rio Grande do Sul, para no final de julho começar a segunda etapa de viagens pelo Palco Giratório realizando apresentações em Brasília, São Paulo, Petrolina, Campo Grande, Porto Velho, Jaraguá do Sul, Joinville, Florianópolis, Rio de Janeiro, João Pessoa, Campina Grande, Feira de Santana, Salvador, Juazeiro do Norte, Crato, Criciúma, Lages e Rio do Sul.

O Amargo Santo da Purificação é uma visão alegórica e barroca da vida, paixão e morte do revolucionário Carlos Marighella. A encenação coletiva para Teatro de Rua conta a história de um herói popular que os setores dominantes tentaram banir da cena nacional durante décadas. Na seqüência de cenas o público assiste momentos importantes desta trajetória: origens na Bahia, juventude, poesia, ditadura do Estado Novo, resistência, prisão, Democracia, Constituinte, clandestinidade, Ditadura Militar, luta armada, morte em emboscada e o resgate histórico, buscando um retrato humano do que foi o Brasil no século XX.

A dramaturgia elaborada pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz parte dos poemas escritos por Carlos Marighella que transformados em canções são o fio condutor da narrativa. Utilizando a plasticidade das máscaras, de elementos da cultura afro-brasileira e figurinos com fortes signos, a encenação cria uma fusão do ritual com o teatro dança. Através de uma estética ‘glauberiana’, o Ói Nóis Aqui Traveiz traz para as ruas das cidades uma abordagem épica das aspirações de liberdade e justiça do povo brasileiro.

Em 2010 a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz tem outra jornada a percorrer, mas em Porto Alegre: trata-se da construção da sede definitiva do grupo. Em março de 2008, a Tribo conquistou junto ao poder público municipal o terreno na rua João Alfredo, 709. Agora a luta segue para a construção do local. O projeto prevê, além do espaço para pesquisa teatral, salas de aula, centro de referência do teatro popular com biblioteca e videoteca, sala de exposição e projeção e um local para o acervo da Terreira da Tribo. Foram aprovadas emendas parlamentares destinando recursos para a construção. Neste momento a Prefeitura Municipal encaminha o projeto de construção para efetivar convênio com o Ministério da Cultura.


Contatos:

Roberto Corbo.
atuadorbeto@gmail.com
(51)91562473

Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
oinois@terra.com.br
www.oinoisaquitraveiz.com.br

mulheres na luta

8 de Março é das trabalhadoras de um mundo novo

Por ocasião do 8 de março - Dia da Mulher Trabalhadora - publicamos breves biografias de dez mulheres anarquistas que nos inspiram nessa luta até a vitória por socialismo e liberdade. Há uma certa dificuldade em achar informações sobre suas vidas, pois muito foi destruído, omitido por esses que sempre nos dominaram, a quem não interessa que se divulgue a história dos oprimidos, ainda mais sendo mulher, ainda pior sendo anarquista. Mas aos poucos, como as costureiras dessas histórias que vamos contar, vamos costurando essa colcha de retalhos tão rica que é a experiência de lutas dos povos do mundo. Como as educadoras, vamos passando isso pra adiante, para os filhos e filhas do povo, que já nascem com o punho levantado. Como as enfermeiras, vamos combater os males capitalistas que adoeceram a sociedade e a natureza. E como as camponesas, que novamente enchem de orgulho as mulheres enfrentando as transnacionais que ameaçam a nossa pampa, vamos semear nossos desejos por justiça, igualdade e a liberdade. Essas mulheres junto com aquelas 129 queimadas dentro da fábrica, junto com todas as lutadoras do povo que já se foram e as que seguem, recebam nossa modesta homenagem.

Companheiras libertárias
Malvina Tavares
Seu nome completo era Júlia Malvina Hailliot Tavares. Natural de Encruzilhada do Sul, RS, nasceu em 24 de novembro de 1866. Pioneira do ensino laico no Brasil.
Estudou em Porto Alegre e casou em 1890 com o português José Joaquim Tavares. Formada, foi lecionar na vila de Encruzilhada, em 1898, de onde se transferiu, um ano depois, para São Gabriel da Estrela, distrito de Lajeado, hoje Cruzeiro do Sul. Ali estabeleceu sua escola e viveu sua vida inteira. Ministrou aos seus alunos um tipo de educação laica e libertadora, espécie de Escola Moderna, nos moldes daquela defendida pelo educador espanhol anarquista Francisco Ferrer. O resultado dessa didática revolucionária não se fez esperar muito. Seus alunos Nino Martins, Cecílio Vilar, Espertirina Martins e suas irmãs se tornaram ativos militantes operários e anarquistas. Essa geração de militantes nutriria um sentimento de grande admiração pela professora Malvina, com a qual aprenderam os ideais libertários.

Malvina faleceu em 16 de outubro de 1939. Há uma rua com seu nome em Porto Alegre.

Fonte: Os anarquistas do Rio Grande do Sul - João Batista Marçal

Dorvalina Martins Ribas
Nasceu em Porto Alegre, RS, em 12 de agosto de 1900. Ainda estudante se tornou discípula de Francisco Ferrer e adepta do ensino laico. Tornou-se anarquista e passou a lecionar para os filhos dos trabalhadores. Formada pela Escola Complementar de Porto Alegre, já em 1919 era diretora da Escola Moderna, criada em 1915 por Polidoro Santos, Cecíclio Vilar, Zenon de Almeida, Djalma Fetterman e outros militantes.
"Essa escola funcionou por alguns anos, chegando a ministrar uma educação senão completamente racionalista, mas muito mais racional do que a ministrada nas escolas atuais, que é cheia de preconceitos absurdos e completamente irracionais. Essa escola chegou a ter quatrocentos alunos de ambos os sexos", segundo o jornal "O Sindicalista", de 1924.

A escola funcionava na Rua Ramiro Barcelos, 197, na então chamada Colônia Africana, espécie de gueto negro localizado onde fica hoje o bairro Bom Fim. O "Correio do Povo" de 3 de maio de 1919 informa que nas comemorações do 1º de maio a passeata operária parou na frente da Escola Moderna e ali foi saudada por seus alunos com o hino "Porvir". Os trabalhadores - segundo a mesma fonte - responderam a homenagem cantando o hino "Filhos do Povo". À frente dos alunos, a professora Dorvalina Ribas.

Por volta de 1921 Dorvalina casa com o militante espanhol Jesus Ribas, seguindo com este para Erechim. Lá abrem uma pequena escola, mas o ambiente conservador do local não permite que o projeto prossiga, e o casal retorna a Porto Alegre após dois anos. Dorvalina segue a educar os filhos dos operários e Jesus Ribas trabalha como eletricista e milita na Federação Operária do Rio Grande do Sul (FORGS). Perseguido pelos patrões, passaria a trabalhar arrancando pedras do Morro Santo Antônio.

Dorvalina e Jesus integravam o Grupo Anarquista Internacional, em 1928, quando ela proferiu uma concorrida palestra na homenagem que a FORGS prestou à memória de Francisco Ferrer. Este ato ocorreu na rua Jerônimo Coelho.

A partir dos anos 30, Dorvalina e o marido seguem dedicando-se è educação infantil, construindo o Instituto de Assistência e Proteção à Infância, junto à pedreira do Morro de Santo Antônio. A idéia surge depois que o casal recebe a denúncia de que um grupo católico mantinha crianças em um porão sujo, alimentadas de restos de comida de restaurantes da burguesia. Jesus foi até o local com amigos armado de uma pistola e disse que as crianças agora estava sob sua responsabilidade. Criam o instituto para abrigar as crianças, reunindo as poucas economias do casal, com muito empenho e apoio da comunidade.

A educadora virá a falecer de câncer em março de 1944, com 43 anos.

Fonte: Os anarquistas do Rio Grande do Sul - João Batista Marçal

Espertirina Martins
Natural de Lajeado, RS, Espertirina era a mais jovem das irmãs Martins, nascida em 1902. Junto com as irmãs Eulina, Dulcina e Virgínia, os irmãos Nino, Henrique (que mudaria seu nome para Cecílio Villar) e Armando, os cunhados Djalma Fetterman e Zenon de Almeida, participa da militância operária e anarquista. Foi aluna da Escola Moderna de Malvina Tavares, onde estudava também seu futuro marido Artur Fabião Carneiro.
Com apenas quinze anos, em 1917, carregava a bomba com que Djalma Fettermann enfrentou a carga de cavalaria da Brigada Militar na batalha campal travada na Várzea, hoje avenida João Pessoa, entre anarquistas e brigadianos, em janeiro deste ano. O confronto se deu durante o enterro de um trabalhador assassinado pela repressão. Espertirina levava essa bomba disfarçada dentro de um buquê de flores... Meses depois, em julho, estouraria a greve geral que ficaria conhecida como "A Guerra dos Braços Cruzados", que pararia Porto Alegre e outras cidades do estado, e da qual Espertirina e sua família participaram ativamente.

Segundo relata seu sobrinho Marat Martins: "Morou com a irmã Eulina, esposa de Zenon de Almeida, em Rio Grande, onde participou de comícios, manifestações e passeatas, inclusive de um encontro sangrento com as forças da repressão. Teve o curso primário completo, estudou violino, escrevia e era oradora ardente. Com Zenon, no prelo portátil, imprimia os panfletos e jornais revolucionários, distribuindo-os nas fábricas e bairros operários. De novo em Porto Alegre, já moça feita, tornou-se uma feminista convicta . Em 1925 foi residir com Eulina e Zenon em Campos (RJ), ligando-se novamente aos grupos anarquistas, quando promoveu reuniões e pronunciou conferências".

"Com a irmã Dulcina, que se havia casado com Djalma Fetterman, foi residir no Rio, na Ilha do Governador, Praia da Bandeira, aí casando-se com Fabião Carneiro, o qual logo a seguir foi trabalhar em uma empresa de publicidade Eclética, em São Paulo. Nesta cidade ambos ligaram-se a Edgar Leuentoth, junto a quem prosseguiram nas atividades revolucionárias, até voltarem para Porto Alegre. Aqui. Espertirina veio a falecer em 22 de dezembro de 1942, em virtude das complicações de um parto prematuro e apendicite. Faleceu antes de completar quarenta anos, fiel a suas posições revolucionárias.

Fonte: Os anarquistas do Rio Grande do Sul - João Batista Marçal

Elvira Boni
Filha de imigrantes italianos, nasceu em 1889 no Espírito Santo do Pinhal, estado de São Paulo, começou ainda criança com suas irmãs e irmãos, assistindo a palestras na Sociedade Dante Alighieri. Seu pai era socialista e por isso encaminhava os filhos nessa direção.
Depois veio morar no bairro de Cordovil, Rio de Janeiro. Começou a trabalhar aos 12 anos de idade como aprendiz de costureira na rua Uruguaiana. Inicialmente não recebia salário e depois passou a receber 10 mil réis por mês. Já conhecia a Liga Anti-Clerical, com sede na Av. Marechal Floriano. Por essa época (1911-12), a jornada de trabalho começava às 8 horas e terminava à 19 horas e quando o serviço apertava, prolongava-se até às 20 e 22 horas.

Aos poucos Elvira forma-se profissionalmente, começa alargar seus horizontes revolucionários lendo os jornais operários e anarquistas. Impulsionada pelo anarco-sindicalismo, em maio de 1919, com 50 companheiras de profissão, forma a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas, passando a funcionar na sede da União dos Alfaiates do Rio de Janeiro.

Coube a Elvira Boni a tarefa de ler o discurso de inauguração, publicado depois no Jornal do Brasil.

A primeira iniciativa da associação das operárias costureiras, ainda em 1919, foi deflagrar greve pelas 8 horas de trabalho. Muitas grevistas foram punidas com a demissão sumária. Não obstante as medidas repressivas, as mulheres trabalhadoras continuaram sua luta, publicando manifestos e, no 3º Congresso Operário Brasileiro, Elvira Boni e Noêmia Lopes representaram as costureiras e por extensão as mulheres. Elvira presidiu a sessão final do Congresso, que ocorreu em 1920.

Tomou parte também na representação de peças anarquistas e anti-clericais de grande importância para a propaganda libertária, levadas à cena por grupos amadores nos palcos dos salões das associações operárias do Rio de Janeiro.

Participou da revista Renovação, dirigida por Marques da Costa, emprestando-lhe seu nome como responsável (o diretor de fato era estrangeiro e não poderia ser). Num dos seus artigos intitulado A Festa da Penha, depois de mostrar o lado hilariante e triste dos Pagadores de Promessas, subindo a escadaria da Penha de joelhos, Elvira Boni termina com a seguinte mensagem: "E tu, mulher, que és indispensável ao êxito de qualquer iniciativa, deves impor-te abandonando todas essas manifestações de vício e depravação; deves conjugar todos os teus esforços, buscando a instrução como principal fator para uma vitória consciente, e ao lado dos homens, formar no batalhão de uma sociedade onde a cadeia seja substituída pela Escola e não exista o ódio no lugar do amor".

Com as divergências entre os fundadores do PCB e as anarquistas, Elvira Boni afastou-se do movimento. Conforme relatou para Edgar Rodrigues em 1978: "Depois da fundação do PC não havia mais assembléia dos Sindicatos que não acabasse em discussão estéril e muitas vezes violência...

Por essa época muitos militantes já haviam sido expulsos pelos governos Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, quando se desencadeou a divergência interna que haveria de durar anos e desorientar os trabalhadores menos preparados, enfraquecendo consideravelmente a resistência operária. Foram temos de reconhecer dois acontecimentos com objetivos diferentes que acabaram convergindo para o mesmo alvo, contribuindo um e outro para enfraquecer brutalmente o movimento anarco-sindicalista, apolítico e livre, aplainando desta forma, consciente ou inconscientemente, o caminho para o nascimento dos sindicatos fascistas comandado pelo Estado Novo a partir de 1930" .

Fonte: "Companheiros" e "Alvorada Operária" de Edgar Rodrigues

Elena Quinteros
Nasce em 9 de setembro de 1945 em Montevidéu, Uruguai.
Estudou Magistério no Instituto de Professores Artigas, onde inicia sua militância no grêmio estudantil. Em 1966 aos 21 anos de idade, obtêm seu título como professora e começa a trabalhar em uma escola de Pando, Canelones. Nessa época se integra à Federação Anarquista Uruguaia (FAU) e também a Resistência Operária Estudantil (ROE), da qual foi ativa militante. Atuou no meio sindical e integrou as Missões Sociopedagógicas, uma iniciativa dos professores do Instituto Cooperativo de Educação Rural.

Em 16 de novembro de 1967 foi detida pela primeira vez e liberada no outro dia. Em outubro de1969 foi detida, processada e enviada à prisão, onde permaneceu até outubro de 1970. Em 1975 é destituída de seu cargo pelo governo ditatorial.

Em 26 de junho de 1976 é seqüestrada nos jardins da Embaixada de Venezuela e levada ao Batalhão nº 13 de infantaria, e posteriormente retirada dali em 28 de junho sob forte custódia, para que não estabelecesse contato algum com sua organização. Enquanto é escoltada, salta de improviso o muro da Embaixada da Venezuela, grita seu nome e pede asilo; o pessoal da embaixada busca socorrê-la, mas a escolta consegue frustrar o auxílio e fuga. Se produz um forcejo entre o pessoal da embaixada e os efetivos militares, os quais terminam por arrastar Quinteros para um carro. Com a perna quebrada ao tentar a fuga, é levada de volta ao Batalhão n° 13, onde funciona um centro de tortura da ditadura uruguaia.Desde aí não se tem mais notícias do que houve com Quinteros. O embaixador da Venezuela no Uruguai, Júlio Ramos, se comunica por telefone com o Ministério de Relações Exteriores Uruguaio e denuncia o fato ao subsecretário Guido Michelín Salomón, posto que o Ministro Juan Carlos Blanco não se encontrava na sede ministerial. Esta situação se converte em um incidente diplomático de envergadura que finaliza com a ruptura de relações diplomáticas por parte de Venezuela.

Em outubro de 2002 o juiz Eduardo Cavalli encontra ao ex- Chanceller Juan Carlos Blanco responsável em primeira instância pela desaparição de Elena Quinteros e os processa com prisão sob a acusação de privação de liberdade.

De Elena, assim se recordam seus companheiros da FAU: "Dizia como era persistente. E persistente classista. Detestava o ascensionismo, o reformismo, o eleitoralismo... Lutava por uma revolução do povo, um protagonismo do povo, uma justiça do povo e não por soluções de Mazorcas. Nunca pelas soluções autoritárias e exploradoras largamente experimentadas e largamente tão desastrosas para os trabalhadores." (...) "Sem falar de sua moral política impecável. Sua fraternidade, sua generosidade que também formam parte desta companheira que sempre formará parte de nós."

Fonte: Wikipédia, FAU

Margarita Ortega
Como outros grupos revolucionários - zapatistas, villistas e etc - o movimento anarquista da México, encabeçado pelo Partido Liberal Mexicano, havia lançado-se às armas contra a brutal ditadura do general Porfirio Díaz. Com a luta e sob terrível repressão, a influência das idéias anarquistas de Magón e seus companheiros estendia-se cada vez com maior força no seio das sociedades camponesa e operária do norte do México e Baixa Califórnia, do mesmo modo que no sul acontecia a rebelião zapatista.
No inicio de 1911 uma das pessoas encarregadas do contato entre combatentes libertários magonistas era uma mulher: Margarita Ortega. Sua arriscada tarefa consistia em atravessar as linhas inimigas guiando os grupos que transportavam as armas, víveres e medicamentos até as agrupações que estavam armadas, e que viviam escondidas nas montanhas ou misturadas nas cidades e vilas. Sua valentia em combate e sua habilidade como amazona - que lhe permitiram escapar de várias emboscadas -, era proverbial entre os guerrilheiros.

A história daquela extraordinária mulher, que aparecia em canções populares, era bem conhecida e admirada entre os revolucionários. Ainda que filha de uma família estabelecida, desde de muito cedo preocupou-se com o destino dos trabalhadores e, como ela dizia, dos deserdados, vítimas da injustiça social. Seus familiares - que aspiravam fazer parte da burguesia endinheirada - não só rechaçavam as idéias que a filha tinha, como odiavam e repudiavam sua atitude. E nessa ambiente, Margarita se casou e em pouco tempo, deu a luz a uma filha que pôs o nome de Rosaura e devotará a ela um grande afeto.

Durante a infância de Rosaura, a mãe se vinculou ao movimento anarquista de Flores Magón. Desde o primeiro momento desenvolveu uma atividade organizativa extraordinária que lhe valeu a confiança dos grupos clandestinos. Mas a medida que chegava o fim da sangrenta ditadura, a luta tornava-se mais dura. Em princípios de 1911, alguns meses antes da queda do ditador, Margarita - segundo o próprio Magón - propôs ao marido irem juntos combater na guerrilha: Eu te amo - ela disse -, mas amo também a todos que sofrem e pelos quais luto e arrisco minha vida. Não quero ver mais homens e mulheres dando sua força, saúde, inteligência, seu futuro para enriquecer os burgueses; não quero que por mais tempo haja homens mandando em outros homens. O marido negou-se. Então Margarita dirigiu-se a sua jovem filha, Rosaura Gortari: E você, minha filha, está disposta a me seguir ou prefere ficar com a família? Rosaura não duvidou em seguir a sua mãe e ambas ingressaram como combatentes nos grupos armados.

Quando em 21 de Maio de 1911 cai Porfirio Díaz, uma explosão de alegria sacode todo o México. O povo saiu para a rua acreditando que a liberdade e o fim da miséria estavam ao alcance da mão. Também Margarita Ortega e sua filha regressaram a cidade e compartilharam com sua gente a ingênua ilusão de que o fim da exploração estava próximo.

Entretanto, pouco durou a alegria e a esperança. Uma vez que Madero foi nomeado presidente, ele nega ao povo tudo aquilo porquê havia lutado. Não acontece a reforma agrária, nem a devolução das terras comunais. E nas oficinas continuam as jornadas abusivas e salários infames. Os mineiros permanecem escravizados aos interesses das companhias estrangeiras que saqueiam o país... Em poucos meses, as prisões se enchem de novo. Os fuzilamentos e execuções sumárias se sucedem por todo o país e muitos revolucionários têm que retornar às montanhas. Entre eles Zapata, Flores Magón...

Naqueles dias, o general Rodolfo Gallegos ordenou que se levasse as duas mulheres até o deserto e as colocasse em marcha sobre o imenso areal, debaixo de um sol abrasador, sem água, sem alimentos e a pé, com a advertência de que seriam passadas pelas armas se voltassem ao povoado.

Durante vários dias, mãe e filha arrastaram-se por aquele imenso areal, que fazia fronteira com os Estados Unidos. A sede e a fome foram minando a resistência de ambas. Rosaura, a menina, foi a primeira a cair exausta com os lábios inchados e o rosto queimado. A mãe, ao vê-la cair desmaiada e com os olhos fechados, acreditou que tudo havia terminado decidindo assim suicidar-se, mais ao apontar o revólver para a cabeça viu que a filha a observava. Tirando forças sabe-se lá de onde conseguiram alcançar as cercanias do povoado de Yuma, já nos EUA.

Ainda não recuperadas do sofrimento, os inspetores da imigração norte-americana arrastaram as duas mulheres e pretendiam deportá-las para o México, entregando-as a uma morte certa. Afortunadamente, em Yuma havia uma importante seção do movimento anarquista de Flores Magón que, em seguida, organizou a fuga. Margarita e sua filha, - que todavia não haviam superado as penalidades vividas no deserto - foram transferidas pelos compatriotas magonistas para Phoenix, Arizona, trocando seus nomes respectivos por os de Maria Valdés e Josefina. Entretanto, apesar dos cuidados da mãe e dos companheiros a pequena Rosaura não pode salvar-se, falecendo logo que chegou. Durante algum tempo a mãe pareceu desesperar-se mas, com o passar dos dias, tendo os olhos dirigidos para a terrível fronteira que havia levado a sua filha, pouco a pouco foi reanimando-se em Margarita a necessidade de continuar a luta que havia iniciado com a sua querida filha. De algum modo, Rosaura continuaria vivendo nela, se manteria a esperança em um ideal comum. Assim o fez. Com o companheiro Natividad Cortés - conta Flores Magón - empreendeu a tarefa de organizar o movimento revolucionário no norte de Sonora, tendo como base de operações o vilarejo de Sonoyta, do dito estado.

Mas a tragédia a perseguia sob o nome do general Rodolfo Gallegos, agora partidário do novo chefe Carranza e contra o ditador Huerta que havia assassinado Madero e ocupado o cargo de presidente da República.

Em outubro de 1913, Gallegos havia sido encarregado por Carranza de vigiar a fronteira e cumprindo este trabalho policial, em uma triste casualidade, pôs as mãos nos anarquistas. Natividad Cortés foi fuzilado no ato, e Margarita levada prisioneira até a Baixa Califórnia, onde Gallegos mandou deixá-la em um lugar que forçosamente seria vista e aprisionada pelos huertistas, deixando a esses a tarefa de assassina-la.

Apenas um mês mais tarde, em 20 de novembro, Margarita foi entregue as tropas do ditador Huerta. Em um campo próximo a Mexicali. Submetida a tortura para que delatasse os companheiros que lutavam contra a nova ditadura e que sustentavam a organização anarquista clandestina, Margarita resistiu em silêncio. Durante quatro dias a obrigaram a ficar de pé e quando caia a levantavam por meio de chutes e coronhadas. Diante de seu obstinado silêncio, na manhã de 24 de novembro de 1913 a jogaram no deserto e ali a fuzilaram, deixando seu cadáver estirado.

No ano seguinte chegada a brutal notícia ao conhecimento de Flores Magón, este escreve uma dolorida crônica - que serviu de base para estes apontamentos - que segue, passo a passo, o terrível, enérgico testemunho desta mulher indomável, que será como uma premunição de si mesma.

Fonte: M. Genofonte - Revista La Campana

Lucia Parsons
“Lucia González de Parsons? ¡Ah!... sim é uma mulata que não chora”, escreveu José Martí em suas crônicas sobre os acontecimentos de Chicago em 1886 publicadas pelo jornal argentino La Nación.
Seu verdadeiro nome era Lucia Eldine González e nasceu em 1853 em Johnson Country, Texas, poucos anos depois de que este Estado deixasse de ser mexicano, sendo tomado pelos americanos invasores.

Lucia era filha de uma mexicana (possivelmente de origem africana) e de um índio creek, e se considerava mexicana. Aos três anos de idade ficou órfã, sendo criada por um tio materno em um rancho do Texas. Investigações recentes assinalam que provavelmente Lucia foi escrava nesse rancho. O historiador James D. Cockcroft a definiu como “uma mulher hispano falante de mistura índia-africana-mexicana e uma ativista operária toda sua vida”.

Foi em Austin (cidade que junto com San Antonio integrava o cordão do algodão, onde residia grande número de mexicanos) que Lucia González conheceu Albert Parsons. Ali ambos se casaram em 1871 ou 1872, e desde então ela passou a ser conhecida como Lucia Parsons.

Devido a sua condição de republicano radical e a que sua recém fundada família era uma mistura de raças, o irmão de Albert, que era general, obrigou-o abandonar o Estado. Com seus escassos pertences os esposos Parsons se trasladaram a Chicago em 1873. Lucia abriu uma pequena loja de roupa para ajudar na economia do lar e Alberto começou a trabalhar numa gráfica.

Chicago era uma cidade de “estrangeiros”, arrastados pelo sistema mundial de acumulação capitalista à periferia de uma cidade industrial onde já havia começado a gestação dos acontecimentos de 1886. Durante o inverno de 1872, milhares de pessoas famintas e sem lar por causa do Grande Incêndio, realizaram manifestações pedindo ajuda. Muitas delas levavam cartazes proclamando “pão ou sangue”. Receberam sangue: corridos ao túnel sob o rio Chicago, foram baleados e golpeados. Em 1877, uma onda de greves se estendeu pelas redes ferroviárias alcançando a Chicago, e as assembléias operárias eram dissolvidas pela polícia a balaços.

A burguesia industrial de Chicago gozava de uma merecida fama de selvageria e o Departamento de Polícia atuava como uma força privada a seu serviço. A maioria dos policiais, além do pagamento que recebiam do município, percebia dinheiro das organizações patronais e tinham assumido que todo grevista era um agente estrangeiro ao serviço do anarquismo ou do socialismo.

Lucia, que tinha qualidades de organizadora, se apaixonou pela leitura e em 1878 começou a redigir artigos sobre diversos temas, entre outros sobre os sem-teto, os desempregados, os vagabundos, os veteranos da Guerra Civil e sobre o papel da mulher na construção do socialismo. Também contribuiu a formar a União de Mulheres Trabalhadoras de Chicago, a mesma que em 1882 "Os Cavalheiros do Trabalho" reconheceram e somaram a suas fileiras (nesses anos não se permitia a militância de mulheres nas organizações). Alem disso, participou na fundação da International Workin People's Asociation (IWPA), de idéias anarquistas, que promovia a ação direta contra os capitalistas.

Em 1885, em plena efervescência pela jornada de oito horas, foi muito ativa na organização das costureiras da indústria de grãos (sweat-shops). Colaborava com artigos para o jornal O Alarme que editava seu esposo

O 1o de maio de 1886, levando da mão a seus pequenos filhos (Lulu de oito anos e Albertinho de sete) Lucia e Alberto caminhavam para o lugar do comício repetindo a consigna que estava na boca de milhares de trabalhadores e trabalhadoras: “não queremos trabalhar mais de oito horas”. O mesmo dia, o Chicago Mail advertia no seu editorial: “Há dois rufiões perigosos que andam em liberdade nesta cidade; dois covardes que se ocultam e que estão tratando de criar dificuldades. Um deles se chama Parsons, o outro Spies. Marquem-nos hoje. Mantenham-nos à vista. Indiquem-nos como pessoalmente responsáveis de qualquer dificuldade que ocorrer. Façam um escarmento realmente exemplar com eles se de verdade se produzem dificuldades”. Estavam condenados de antemão. Mas aquele 1o de maio acabou sem incidentes.

O 4 de maio se realizou um comício na Praça Haymarket para protestar pela repressão policial, que tinha vitimado seis vidas operárias na frente da fábrica Mc Cormik quando uma bomba matou o policial Degan. Lucia e Alberto, depois que este falara no comício, se encontravam junto de seus filhos no Salão Zept' s, o que demonstra que nada tiveram a ver com aquela bomba, pelo qual se condenou a quem depois se converteriam nos Mártires de Chicago ao morrer na forca ou purgar longas condenações na prisão.

Parsons, convencido de que seria culpado, conseguiu fugir no meio da confusão, e dias mais tarde, depois discutir o assunto com Lucia, decidiu apresentar-se. Subitamente apareceu perante da Corte exclamando: “Nossas Honorabilidades, tenho vindo para que se me processe junto de todos meus inocentes companheiros”. Lucia, acompanhada pelos seus filhos percorreu todo o país durante quase um ano. Dirigiu-se a mais de 200 mil pessoas em 16 estados, falando de noite e viajando de dia. Escreveu centenas de cartas a sindicatos e diferentes autoridades, tanto dos Estados Unidos como de todo o mundo.

Quando o 9 de outubro de 1886 se proclamou a sentença de morte Lucia estava na sala, apertou seu punho contra o rosto e não quis derramar lágrimas frente aos algozes. Lucia disse: "Se de mim depende que Albert peça perdão, que o enforquem".

Pouco antes que o enforcassem, Alberto escrevia: “A minha pobre e querida esposa: Tu es uma mulher do povo e ao povo te lego. Devo fazer-te um pedido: não cometas nenhum ato temerário quando eu tenha ido, mas assume a causa do socialismo, já que eu me vejo obrigado a abandona-la”. Depois do enforcamento de seu esposo, Lucia seguiu percorrendo o país, organizando as trabalhadoras e escrevendo em jornais sindicais. Participou nas mobilizações de 1890, quando se comemorou pela primeira vez o 1o de Maio nos Estados Unidos.

Em junho de 1905 esteve presente na constituição de Trabalhadores Industriais do Mundo (IWW, pelas suas siglas em inglês), organização influenciada pelo anarco-sindicalismo. Naquela oportunidade manifestou: “Somos escravas dos escravos. Exploram-nos mais impiedosamente que aos homens. Onde queira que os salários devam ser reduzidos, os capitalistas utilizam as mulheres para reduzi-los, e se há qualquer coisa que vocês os homens devem fazer no futuro, é organizar as mulheres”.

O 15 de dezembro de 1911 realizou um balanço sobre os efeitos da publicação "Os famosos discursos dos Mártires de Haymarket", declarando que já tinha vendido 10 mil cópias ao tempo que anunciava uma sexta edição de 12 mil exemplares. Em 1913, aos 60 anos de idade, foi detida pela polícia de Los Angeles.

Aos 89 anos, Lucia seguia ativa, quando a morte a surpreendeu em Chicago ao incendiar-se sua casa em 1942. Finalizavam 62 anos de militância político-sindical, mas ainda que morta, a polícia a seguia considerando uma ameaça, pois seus documentos pessoais foram confiscados.

Fonte: Enildo Iglesias- Rel-UITA

Louise Michel
Nasceu em 29 de maio de 1830 em Haute Marne (França). Era filha de uma servente, não reconhecida pelo pai, o patrão da sua mãe. Através do apoio do avô recebeu educação e se converteu em professora. Louise instrui as crianças conforme suas convicções e não como exige o governo imperial. Explica às crianças que Napoleão é um criminoso, um tirano, um traidor, os ensina cantos revolucionários e outras coisas. Os pequenos mostram-se muito contentes com a estranha professora mais o diretor chega logo à conclusão de que ela não serve para o magistério.
Louise vai então para Paris e começa a lecionar em uma escola livre, pois nas públicas tinha que prestar juramento de fidelidade ao imperador. Estas escolas pagavam muito mal, e Louise para poder sustentar e ajudar a mãe que dela dependia também dava classes particulares de música e desenho. Apesar disso não deixou de participar dos clubes revolucionários onde conheceu vários militantes de esquerda. Toma parte do grupo "O direito da mulher", formado por socialistas e feministas .

Louise participa em todas as tentativas revolucionárias contra Napoleão III e quando o trono imperial cai destruído por ocasião da guerra franco-alemã. Ela é a primeira a atacar a chamada República de Setembro, a república da burguesia francesa.

Durante a Comuna de Paris, em 1871, animou o Clube da Revolução e suas milícias, comandando um batalhão feminino que se enfrentou com os reacionários nas barricadas de Paris. A condenaram a dez anos de exílio depois de ter declarado em juízo o seguinte:

"Não quero me defender. Pertenço por inteiro à revolução social. Declaro aceitar a responsabilidade dos meus atos. O que peço é para ser conduzida ao Campo de Satory, onde foram conduzidos e metralhados os nossos irmãos. Já que, segundo parece, todo coração que luta pela liberdade só tem direito a um tanto de chumbo, exijo minha parte. Se me deixarem viver, não cessarei de clamar vingança e de denunciar, e, vingança de meus irmãos, aos assassinos desta Comissão."

Deportada para a ilha de Nouméa, uma colônia penitenciária francesa situada no Oceano Pacífico, no arquipélago de Nova Caledônia, colaborou com aqueles que lutavam pela independência política dessa colônia francesa. Lá eram assassinados centenas de índios canacos que fartos da exploração francesa, haviam levantado-se esgrimindo facas, lanças e flechas contra os poderoso canhões e fuzis do exército francês. Louise aprendeu seu idioma, se internou na selva e montou uma escola e uma dispensa.

Dois anos depois do seu regresso à França em 1881, foi processada por encabeçar uma manifestação de desempregados que culminou em uma expropriação dos comércios. Obteve uma nova condenação de seis anos de prisão. Escreveu "Memórias da Comuna", em 1898, além de novelas e dramas sociais como "A Miséria", "Os Filhos do Povo", "Os delitos de uma época", entre outros. Em 1889 Louise falava em um ato quando um espectador situado atrás dela lhe disparou duas vezes na cabeça. Detido imediatamente, Louise mesmo ferida pediu que o soltassem, entendendo ser um pobre miserável a quem pagaram para matá-la.

Em 1890 foi viver na Inglaterra, onde conheceu outros famosos libertários: Malatesta, Emma Goldmam, Kropotkin, Pedro Gori. Em Londres funda a "Escola Dominical Internacional" junto com Sebastian Faure e H. W. Nevinson.

Morreu em 1905, enquanto dava uma conferência para trabalhadores em Marselha. Milhares de pessoas seguram seu féretro. Foi enterrada envolta pelo estandarte da Comuna de Paris.

Fonte: Revista "La Campana", Rudolf Rocker, Wikipédia

Emma Goldman
(27 de junho de 1869 – 14 de maio de 1940).
Célebre anarquista de origem lituana conhecida por seus escritos e seus manifestos libertários e feministas, foi uma das pioneiras na luta pela emancipação da mulher.

Nasceu no seio de uma família judia de Kaunas, na Lituânia, que regiam um pequeno hotel. Sofreu uma infância violenta, tendo sido estuprada com apenas 12 anos.Durante o período de repressão política que seguiu ao assassinato de Alexandre II, e quando tinha 13 anos, se transladou com sua família para São Petersburgo.

Emigrou aos Estados Unidos com uma irmã depois de um enfrentemento com seu pai, que pretendia casá-la aos 15 anos. Passou a trabalhar como operária têxtil. O enforcamento de quatro anarquistas depois do motim de Haymarket, em Chicago, animou a jovem Emma Goldman a unir-se ao movimento anarquista e converter-se aos 20 anos, em uma autêntica revolucionária. Nessa época casou com um emigrante russo, mas o casamento durou apenas 10 meses. Emma se separou e foi para Nova Iorque. Continuou legalmente casada para conservar sua cidadania americana.

Emma foi presa em 1893 na penitenciária das ilhas Blackwell. Publicamente instigou os operários à greve "Peçais trabalho, se não dai-vos, peçais pão, e se não dai-vos nem pão nem trabalho, tomem o pão". Esta citação é um resumo do princípio de expropriação preconizada pelos anarco-comunistas como Piotr Kropotkin. Voltairine de Cleyre saiu em defesa de Emma Goldman em uma conferência dada depois de sua prisão. Enquanto permaneceu na prisão, desenvolveu um profundo interesse pela educação das crianças, para o que iria dedicar-se anos mais tarde.

Junto com nove pessoas foi novamente presa em 1901 acusada de participar de um complô de assassinato contra o presidente William Mc Kinley. Um deles, Léon Czolgosz que havia dado o tiro, havia assistido uma conferência de Emma Goldman e se tornado anarquista desde então.

Entre 1906 e 1917 publica a revista anarquista mensal "Mãe Terra". Em 1910 escreve "Anarquismo e outros ensaios". Em 11 de fevereiro de 1916 é detida e presa de novo pela distribuição de um manifesto em favor do aborto. Durante vários anos, e cada vez que dava uma conferência, esperava ser detida, por isso sempre carregava um bom livro.

Em 1917 é encarcerada junto com Alexander Berkman por conspirar contra a lei que obrigava ao serviço militar nos Estados Unidos. Fez públicas suas críticas à Primeira Guerra Mundial e seu caráter imperialista.

Seu apoio a Berkman na tentativa de assassinato do industrial Henry Clay Frick a fez ainda mais impopular frente as autoridades americanas. Berkman foi preso durante vários anos.

Em 1919 foi expulsa dos EUA e deportada para a Rússia. Durante a audiência que tratava de sua expulsão o presidente da mesma qualificou a Emma como "uma das mulheres mais perigosas da América".

Residiu na URSS com A. Berkman entre 1920 e 1922 e participou da sublevação anarquista de Kronstadt. Dessa época datam seus escritos "Minha desilusão com Rússia" e "Minha posterior desilusão com Rússia". Desconforme com o autoritarismo soviético, se instalou definitivamente no Canadá. Em 1931 escreve sua autobiografia "Vivendo minha vida". Morreu em Toronto em 1940 e está enterrada em Chicago.

Fonte: Wikipédia

Ida Mett
Ida Gilman nasceu em 20 de julho de 1901 em Smorgone (atual Bielorrússia). Seus pais, comerciantes de telas pertenciam à comunidade judia, permitiram-na estudar medicina.
Jovem passou a freqüentar círculos anarquistas em Moscou. Algumas semanas antes de receber o diploma em 1924, foi presa pelas autoridades soviéticas por "atividades subversivas". Com 23 anos se viu obrigada a deixar a Rússia. Vive dois anos na Polônia e em seguida chega a Paris, em 1926. Mudou seu sobrenome para Mett, como fizeram outros revolucionários russos.

Em Paris se encontra com Nestor Makhno, Volin , Valensky, P. Archinov, assim como com Nicolas Lazarévitch, que se converte em seu companheiro. O grupo editava o jornal "Dielo Trouda" ("A obra do trabalho"), o qual Ida se soma.

O grupo produz neste ano a "Plataforma Organizativa para a União Geral dos Anarquistas". A "Plataforma" faz uma avaliação crítica da participação dos anarquistas na Revolução Russa, que dispersos, sem uma organização, não conseguiram atuar com eficácia. Propõe uma declaração de princípios e formas organizativas.

Em 1928 Ida e Nicolás organizam campanhas informativas sobre a realidade da classe operária na Rússia soviética. Editam o periódico em francês "A libertação sindical" até que são expulsos do país em 25 de novembro de 1928.

Refugiada e Bélgica junto a seu companheiro conclui seus estudos de medicina e obtêm o diploma, embora não seja autorizada a exercer a profissão nem na Bélgica nem na França. O encontro com Ascaso e Durruti os leva a partirem para Espanha em 1931, onde participam de reuniões, atos, e auxilia Ascaso quando este é ferido em um tiroteio. De retorno a Bélgica, criam em 1933, com Jean De Boe, o periódoco "O Despertar sindicalista" e sofrem sucessivas condenações por sua militância.

Em 1936 voltam a França e Ida se converte em secretária do Sindicato de Gás da União de Trabalhadores.

Em 8 de maio de 1940, Nicolás e Ida são presos e separados. Ida fica internada durante um ano junto de seus filhos no campo de Rieucros, do qual sairá graças à Boris Souvarine, que lhes consegue moradia em Var.

Em 1948 trabalha como médica, além de empregar-se como tradutora. Neste ano publica seu famoso livro "A Comuna de Kronstadt" . A obra foi a primeira análise com rigor histórico que se fez sobre a rebelião dos marinheiros, que seriam assassinados por ordem de Trotsky. Coloca em evidência o papel jogado pelo Estado e pela cúpula bolchevique na repressão, não só de Kronstadt mas do movimento de rebelião e luta que se estendeu até fins de 1920 e princípios de 1921 por toda Rússia (greves em Petrogrado, a rebelião camponesa de Tambow...).

Ela também escreveu o estudo "O camponês na Revolução Russa e Pós Revolução", que apareceu em 1968, entre outros.Another work, Medicine in the USSR appeared in 1953.

Morre em Paris em 27 de junho de 1973.

Fontes: Ediciones Espartaco, Enciclopédia Livre do Ateneo Virtual, Nick Heath - Libcom.net

domingo, 9 de maio de 2010

teatro combina com politica?

Essa é uma pergunta já não nova no ambito da arte, e no terreno do teatro. Para ampliar e continuar com este debate propomos por aqui uma conversa daqueles que se interessam no assunto. O que a arte tem de politica e o a politica tem de arte. Como ponto de reflexão lançamos mão de provocar o debate através de um texto da Companhia do latão. Este texto traz uma análise das condições concretas e materiais do fazer artistico principalmente no Brasil. Traz propostas de análise e não se encerra nelas colocando seu ponto de vista sobre a relação que a arte tem de ter com a esfera do campo politico-social. Arte anticapitalista?Teatro revolucionário são algumas das questões que podemos estar debatendo. convidamos a todos e todas interessados a fazer parte desta mesa virtual.



Por um teatro materialista

Por Márcio Marciano e Sérgio de Carvalho
A Companhia do Latão tem debatido internamente algumas questões que dizem respeito à sua utilidade como produtora de representações. Para se opor aos modos hegemônicos da atividade artística numa sociedade orientada pela lógica do Capitalismo tardio (cujo corolário é a transformação perene da cultura em mercadoria e da mercadoria em cultura) essa reflexão deve provir de uma ação cultural como prática política. Procuramos resumir os temas debatidos nos itens expostos a seguir:
O que dá sentido político ao teatro é a forma como se organizam suas relações de produção
É na sala de ensaios que tem início o processo de politização do Teatro. O modo como se organizam as relações de trabalho entre os integrantes do grupo determina o caráter político da encenação. O esforço para que seja superada a divisão entre trabalho material e trabalho espiritual na construção da cena deve se estender, numa segunda fase, à relação com o público. A politização do ensaio contagia a forma do espetáculo e abre uma nova perspectiva de recepção crítica. A forma processual da obra - decorrente da atitude coletivizante do trabalho - suprime as hierarquias entre os artistas no palco, desmistifica a imagem artística, e busca tornar companheiros de jornada simbólica os homens do palco e os da platéia.
O que determina o valor da produção artística é seu valor de uso
Submetida aos padrões do mundo da mercadoria, a produção artística é levada a alienar sua utilidade em favor da pura circulação. Como uma sandália que não se destina mais ao pé, mas feita para ser vendida, o artista passa a trabalhar para ser reconhecido como artista, gasta sua energia produtiva e econômica para aparecer nos jornais, para ser valorizado como mercadoria da cultura. Torna estética não sua obra, mas sua condição de mercadoria. Afasta-se dos conteúdos da arte e estetiza, em abstrato, seu modo de ser. Comporta-se como as mercadorias, cuja aura construída pouco provém do conteúdo do produto e muito das emoções genéricas que lhe são atribuídas. O artista, assim constrangido, persegue toscas imagens da celebridade enquanto lamenta idealisticamente a corrupção dos valores artísticos. A crítica ao império da circulação é, contudo, insuficiente. Pode levar à defesa da arte absoluta, de que a obra encontra seu fim no seu sentido puramente estético. Para nós, não se deve ter medo do debate sobre a função da arte. Consideramos legítimas quaisquer utilizações pedagógicas, assistenciais e humanitárias da arte, ainda que nossa pesquisa seja de ordem estética. Estética naquele limiar em que a estética deixa de ser estética: nosso interesse artístico é a reativação da luta de classes.
É necessária a invenção de alternativas de circulação
A lógica da circulação impregna e confunde os produtores da arte. Inocula nos organismos da cultura doenças como o marquetismo, o personalismo, o agradismo hedonista. A crítica à mercantilização da arte é inoperante se o trabalho artístico continua preso aos ditames de uma imprensa cujo critério de verdade provém das pesquisas de mercado. De outro lado, a produção que conta com o apoio estatal não está preservada da influência mercantil quando apenas - no desejo de corresponder ao sentido público de sua missão - confere aparência "social" aos seus produtos, sem alterar conteúdos e práticas teatrais. Os produtos da cultura devem servir a processos coletivos, e não o contrário. Por isso, novos modos precisam ser inventados: associações de espectadores, contatos com movimentos sociais, intercâmbios entre grupos. Cabe também aos artistas a organização de novos sistemas de circulação de suas obras. Não basta a interlocução isolada entre produtores culturais, à margem da sociedade. É preciso produzir formas capazes de incluir a sociedade como um todo numa perspectiva revolucionária.
Anticapitalismo, pesquisa estética e revolução
A pesquisa estética terá sensibilidade revolucionária quando desenvolvida por produtores empenhados em um projeto coletivo anticapitalista.

sábado, 8 de maio de 2010

FOMOS ASSISTIR TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA


Hoje alguns de nós foram assistir "Toda Nudez Será Castigada" feita pelo Armazem Companhia de Teatro. Grupo do Rio de Janeiro que apresentou espetaculo no V Festival Palco Giratório. Muito boa a peça, pois se trata de um texto de Nelson Rodrigues, em que o grupo aborda com efeitos contemporaneos e abre o texto através de uma atuação viva e proxima do publico. Valeu mesmo a pena ter ido lá assistir.

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA

do genial dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980), fala sobre a estreita ligação entre puritanismo e sexualidade exacerbada, através de um humor cheio de contundencias e de um senso trágico transparente. (Paulo de Moraes/200)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

arena conta zumbi

Estamos na lona buscando a montagem de uma peça de rua que trate de questões culturais, politicas e sociais sobre a história do brasil. Através do tempo buscamos fomentar nossa visão por meio da participação dos negros e negras no processo histórico de formação do trabalho, ritual, religiosa e da resistencia deles ao sistema escravocrata que muitas marcas deixa até os dias de hoje. Nos baseamos no texto do grupo arena de são paulo e sobre ele nos debruçamos em varios outros para criar esta idéia. A luta é como um circulo pode começar de qualquer ponto, mas não termina nunca...

Arena conta Zumbi é um musical escrito por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal em 1965, com música de Edu Lobo, direção de Augusto Boal e direção musical de Carlos Castilho.

A cenografia e a montagem cenográfica estiveram a cargo de Cecília Thompson, Flávio Império, Luiz Kupfer, Maurice Capovilla, Rodrigo Brotero e Thomaz Farkas; a iluminação foi de Orion de Carvalho; a montagem, de Antonio Ronco; a produção, de Myriam Muniz, e contou com Carlos Castilho, Anunciação e Nenê como os músicos.




Elenco (1965)
Lima Duarte
Gianfrancesco Guarnieri
Marília Medalha
David José
Dina Sfat
Anthero de Oliveira
Vanya Sant'Anna
Chant Dessian

quinta-feira, 6 de maio de 2010

grupo trilho apresenta:

a mulher, o homem e a liberdade

De todos os sentimentos que fervilham no coração do homem o anseio de liberdade é, certamente, um dos mais imperiosos e a sua satisfação é uma das condições essenciais da existência. Por isso, quando o homem se ve privado dela, não tem sossego enquanto não a reconquista, de modo que a história poderia limitar-se ao estudo dos atentados contra a liberdade e dos esforços dos oprimidos para sacudir o jugo que lhes foi imposto. Se a ansia de liberdade é tão viva no coração do homem, não é paradoxal que ele a tenha deixado arrancar, ainda que só uma vez (Benjamim Peret - Quilombo dos Palmares